DESEJO SEXUAL FEMININO
PRÁTICA PROFISSIONAL – Relato de Caso
Relato de caso: a paciente identificada por “gérbera amarela”, 38 anos, casada e feliz no casamento, ama seu marido e relata que o sexo sempre foi muito satisfatório entre o casal. É casada há mais de 10 anos, não toma medicamentos, faz atividade física regular, e boa condição física e emocional.
Sua queixa inicial foi ausência de desejo sexual.
A mesma procurou seu médico ginecologista devido a esta queixa, e este disse que é normal para a idade.
Na avaliação expliquei que não é normal para a sua idade, e que deve ter algum fator físico ou emocional que está causando esta disfunção. A mesma relatou que às vezes sente dor na penetração, diminuição de lubrificação, e não está sentindo prazer sexual. Esta queixa surgiu há uns 4 meses.
No exame físico dos músculos do assoalho pélvico (MAP) identificou-se leve hipertonia muscular, o que explica a alteração de lubrificação e dor na penetração, já que a musculatura está tensa, não saudável.
No final da sessão ela relatou que seu marido estava apresentando há alguns meses disfunção de ereção (DE). E isto estava deixando-a desconfiada do seu sentimento para com ela, sentindo-se não desejada, e até medo que ele a estava traindo.
Tratamento: orientei para a mesma fazer exercícios com a vagina para soltar a musculatura que já está pouco tensa (hipertonia), expliquei porque provavelmente estava acontecendo a DE com seu marido, e como ocorre esta disfunção masculina. Sugeri que o marido procurasse um médico Urologista, e que mudasse seu estilo de vida, para deste modo diminuir com o estresse e com fatores predisponentes da DE. Expliquei que os sintomas que ela estava sentindo eram consequência da DE do marido.
Conclui-se que muitas vezes a mulher insconscientemente contrai a musculatura da vagina para evitar sofrimento físico e emocional. Esta contração contínua e prolongada causa alteração no tônus, neste caso aumentou, gerando uma tensão local. No caso desta paciente, o sentimento de não ser desejada e não ser “competente” o bastante para o marido manter a ereção e ter prazer fez com que ela “fechasse” a vagina, já que ali é a porta de sua frustação momentânea. Uma negação do problema!!!
A falta de diálogo entre o casal e o desconhecimento da sexualidade humana causa consequências graves da felicidade individual e conjugal.
Em estudos realizados por Abdo et al. (2002) com 2.835 brasileiros de várias cidades, sendo que as mulheres eram 53% do total da amostra, observou que as principais disfunções sexuais femininas foram a ausência de orgasmo, com 29,3%, e a falta de desejo sexual teve índice de 34,6%. Visto que, para esses autores, a falta de desejo sexual é a disfunção mais comum nas mulheres, e sua prevalência aumenta de acordo com a idade.
A resposta sexual normal na mulher é mediada por interação de fatores ambientais, psicológicos e fisiológicos. O desejo é a fase inicial da resposta sexual, e isto pode ocorrer quando a mulher recebe estímulos sexuais. Este processo pode ser gratificante, traduzindo-se em excitação sexual. Para estes autores, o desejo sexual configura o início da resposta sexual, este surge por um impulso vindo de centros específicos do cérebro, e como consequência, inicia-se a excitação e lubrificação vaginal. Os processos fisiológicos normais de excitação sexual podem ser modificados por alterações vasculares, neurológicas, entre outros (Antoniole, Simões, 2010).
Para Basson (2001), as mulheres que estão em relacionamentos de longo tempo aceitam iniciar atividade sexual por maior proximidade emocional com o parceiro, por sentirem-se mais atraídas, por compreender e satisfazer seu próprio senso de interesse e necessidade.
No estudo realizado por Abdo et al. (2002) observou-se que as disfunções sexuais femininas estão fortemente associadas a problemas psicossociais e com dificuldades nos relacionamentos conjugais. Sendo que os brasileiros valorizam o carinho e afeto como fatores importantes da atividade sexual, vinculando esta atividade à presença de elementos afetivos.
Sobre a alteração do desejo sexual, autores relatam que a dor na relação sexual vem da insatisfação, e esta está relacionada com a falta de orgasmo. Este transtorno orgásmico causa diminuição da frequência sexual, dor na relação e diminuição da comunicação entre o casal. Entretanto, esta falta de comunicação pode ocasionar diminuição do desejo, diminuir a frequência e causar a dor, tornando um ciclo (Amidu et al., 2010).
Texto: Fabiane Dell` Antônio - monografia de sua autoria, intitulada: A fisioterapia no tratamento de mulheres com dispareunia por hipertonia dos músculos do assoalho pélvico: relato de 3 casos (2011).